PROCURANDO CAMINHOS PARA A BIBLIOTECONOMIA
Ana Maria Sá de Carvalho
RESUMO: Com Vygotsky, Hansen, Barreto e Castoriadis compreendemos que o conhecimento e a informação são legados sócio-históricos que se constróem através de ações compartilhadas e por meio da linguagem. Daí porque a leitura, considerada a linguagem primordial desta sociedade letrada, ao ser deslocada da enunciação para a recepção, deverá demarcar o território da Biblioteconomia.
1 INTRODUZINDO O PROBLEMA
A história está nos apontando um período de transformações provocadas pelas novas tecnologias informacionais e comunicacionais que afetam diretamente o dia a dia do ser humano acarretando
mudanças profundas na natureza do trabalho. A sociedade se vê invadida pelo caos informacional sendo capitulada num abrir e fechar de olhos que a colocou no epicentro do terremoto social. Exige-se, agora, uma reconstrução da sociedade abalada na sua territorização. Novos
espaços precisam ser demarcados e às profissões urge a demarcação de novas fronteiras visando a não desterritorização. A Biblioteconomia tem como objeto de estudo e de atuação a
informação: grande vedete da contemporanedade pois tornou-se o capital intelectual, social e econômico imprescindível no momento atual. São com estes valores agregados, da informação, que a Biblioteconomia terá que interagir e compartilhar também, seu
conhecimento, construindo assim um espaço social que lhe assegure um lugar de destaque profissional nesta nova ordem social. As transformações sociais da atualidade acarretam a
necessidade de reformulação dos modos de saber. Estes novos modos de compreender a sociedade tornam-se temas necessários para todas.as fases humanas aliados as tecnologias, para satisfazer ao homem e ajudá-lo nas suas necessidades básica. Uma reformulação nos modos de saber da biblioteconomia se faz necessária para colocá-la como um importante eixo da sociedade da qual participamos. Para esta empreitada precisamos encontrar parceiros e os buscaremos naqueles
estudiosos que identificamos pontos relevantes para nossa causa.
2 ANGARIANDO PARCEIROS PARA NOSSA PROPOSTA
A informação é um elemento estritamente ligado ao homem., somente. Mas, como é privilégio humano ela se faz necessária em todas as etapas do seu desenvolvimento, desde o nascimento até a morte. Isto ocorre principalmente na sociedade atual onde ela está aliada as tecnologias que propiciam meios aplicáveis às mais variadas circunstâncias, alcança um grau de velocidade que não sinaliza a diminuição deste ritmo já alcançado e tende a continuação do barateamento dos seus custos. Torna-se necessário que o homem, como ser dinâmico e sócio-histórico esteja conectado às conseqüências advindas destas transformações. Daí porque Moore 1 diz que as sociedades da informação apresentam-se com três características que nos ajudam a compreender porque o homem se acha no epicentro do vulcão informacional. A primeira delas liga-se a utilização da informação como um recurso econômico utilizado, pelas empresas, como instrumento importante para seu desempenho resultando em melhoria da qualidade dos bens e serviços produzidos. A segunda característica está ligada a identificação, nestas sociedades , da elevação do uso da
informação, pela população em geral. As pessoas utilizam-se mais da informação para a tomada de decisões quer seja para seu cotidiano quer seja para assumir suas responsabilidades cívicas, como cidadãos. 1 MOORE, Nick. A sociedade da informação. In: A informação: tendências para o novo milênio. Brasília: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1999, p.94-108..A terceira característica é o desenvolvimento dos meios e serviços de informação para atender a demanda pois o setor da informação cresce mais do que o setor econômico, ou seja, o setor informacional cresceu 5%, em 1994, enquanto o conjunto da economia mundial não atingiu 3% de crescimento, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT). 2 A tecnologia se faz presente contribuindo para a extinção das barreiras nacionais e o aparecimento da globalização. Este quadro apresentado exige que a Biblioteconomia organize uma empreitada voltada para os emergentes saberes sociais e tecnológicos ligados à informação que sejam comprometidos com a construção de uma nova cidadania, no nosso país. Buscaremos em Vygotsky, Hansen, Barreto e Castoriadis parceiros para nossa caminhada de busca de outros modos de saberes, que já despontam na sociedade, para que a Biblioteconomia possa encontrar a cumplicidade necessária em cada um deles. Vigotsky não vê o biológico e o social na vida humana como dissociados, daí porque, influenciado pelo materialismo dialético, ele vai dizer que " o homem constitui-se como tal através de suas interações sociais, portanto, é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura". 3 Para ele essa
relação dialética acontece desde o nascimento do indivíduo. Vygotsky deixa bem claro que este não é um receptáculo vazio, sujeito ao determinismo cultural mas, é alguém que organiza coerentemente sua apreensão social sendo capaz de impor atividades criativas influenciando na renovação do seu contexto cultural. Esta maneira de Vygotsky pensar o homem no mundo o torna conhecido como um estudioso sócio-interacionista. Mas para ele o que vai permitir a 2 Idem. Ibid. p. 95. 3 REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1996.p.93..interação social do homem é a linguagem. Esta tanto serve como
veículo de interação social como de realizações individuais e coletivas que influenciam o meio social. Nesta direção Vygotsky oferece um legado de extrema importância para a educação e por conseqüência para nossa reflexão atual quando ele fala na "zona de desenvolvimento proximal". Isto significa dizer que o indivíduo é capaz de explicitar seu conhecimento através da verbalização ou mesmo de alguma ação. Mas, existe aquele conhecimento potencial que as pessoas ainda não conseguiram explicitá-los sozinhas, ou seja o desenvolvimento potencial que Vygotsky vai chamá-lo de desenvolvimento proximal e para que este desenvolvimento individual aconteça ele precisa se apoiar no seu ambiente social. Este apoio social se expressa através da ajuda de alguém da comunidade que contribuirá para que este potencial seja desenvolvido até que o indivíduo seja capaz de se expressar sem a ajuda específica de alguém. É o caso da criança quando aprende à falar, à ler e à escrever. É através desta trilha que seguiremos no rastro dos autores acima citados. Buscaremos na educação os subsídios necessários para a formação do homem como cidadão dentro da sociedade da informação. Começaremos com a linguagem oral e escrita, no ensino básico, como elemento chave para alfabetizar cidadãos capazes de compreenderem a sociedade como um todo e de lidarem com as questões postas tecnologicamente. São estes caminhos que poderão prover uma melhor qualidade de vida, desde que haja um comprometimento coletivo com o desenvolvimento da linguagem e a escola é o território demarcado para tal..Jane Hansen, 4da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, tem se destacado pelos estudos e ações referentes a aprendizagem da leitura/escrita no ensino básico. A metodologia empregada por esta estudiosa está direcionada para a aprendizagem compartilhada. Isto significa dizer os alunos aprendem a ler lendo, escrevendo e compartilhando suas dificuldades e êxitos com os colegas. O papel do professor é criar um ambiente propício para tal e ensinar somente quando nenhum aluno conseguiu apreender determinado item. Este comportamento valoriza o desenvolvimento individual através da interação social extraindo de cada um o conhecimento que ainda não foi explicitado. Esta metodologia permite somar os diferentes conhecimentos logrados pelos alunos propiciando a formação de cidadãos críticos, reflexivos, responsáveis por sua auto-aprendizagem e
comprometidos com o desempenho do seu contexto escolar. Este processo produtivo de aprendizagem entende a avaliação como um meio de encontrar valor em nós mesmo, nos outros e nos nossos trabalhos. Os alunos tornam-se leitores/escritores, documentam seus trabalhos viabilizando a formação de excelentes avaliadores e planejadores de suas atividades. Quando Hansen aborda a leitura ela não se refere à um processo linear e mecânico de descodificação ou codificação ou mesmo de transmissão. Ela explora o enorme potencial dos signos, as sutilezas disfarçadas na estrutura do texto e a riqueza e o dinamismo da vida mental dos indivíduos que fazem da leitura um processo de muitas facetas e amplas possibilidades de resultados, às vezes surpreendentes. 4 HANSEN, Jane. When writers read. Portsmouth,NH: Heinemann, 1987. ------- . When learners evaluate. Portsmouth, NH: Heinemann, 1998..O que se torna relevante é a importância atribuída ao conhecimento gestado através da convivência social contribuindo para
que os alunos se expressem e que suas vozes aflorem o desenvolvimento de suas potencialidades humanas tendo como instrumental básico a linguagem oral e escrita. Mas não é somente na área educacional que estamos assistindo mudanças e surgindo diferentes maneiras de pensar e agir na
área social. Maria do Carmo Brant de Carvalho, coordenadora geral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), uma organização não governamental que assessora projetos educacionais afirma que o empresariado mudou, na última década, sua forma de pensar a responsabilidade social. Reforçando esta afirmativa, Evelyn Ioschpe, da Fundação Ioschpe, também envolvida na área, afirma: "Educação é a maneira mais
eficiente de multiplicar o investimento social". 5 Este mesmo artigo relembra o resultado de uma pesquisa publicada em 1999, pelo Ceats-USP, que evidencia a Educação como área prioritária dos investimentos das empresas de todo o país. Mas, mais recentemente o Instituto de Pesquisas Econômicas mostra que este viés é mais característico das grandes empresas e que à medida que a Empresa cresce aumenta seu envolvimento com a Educação. O programa "Coca-Cola Valorização
dos Jovens", confirmando a importância do conhecimento se processar através do envolvimento da própria comunidade criou um programa em que os alunos atuam como monitores dos mais jovens. Este programa tem obtido sucesso à medida que está evitando a evasão escolar e o desempenho dos alunos envolvidos tem evoluído significativamente. 6 5 ROSEMBLUM, Célia. Projetos educativos atraem empresas: área é alvo prioritário dos investimentos sociais feitos pela iniciativa privada. Jornal Valor Econômico. Especial Empresa&Comunidade, terça-feira, 13 de junho de 2000, e8. 6 _____. Um projeto para reduzir a evasão: programa da Coca-Cola transforma alunos em monitores. Jornal Valor Econômico. Especial Empresa&Comunidade, terça-feira, 13 de junho de 2000, e10..Seguindo esta mesma trilha, na qual Waldez Luiz Ludwig 7 diz que "conhecimento é poder e dá lucro" é que Barreto 8 vai mobilizar as inteligências em busca de extrair o conhecimento dos indivíduos para que eles sejam compartilhados em busca de maiores lucros nas organizações. Isto significa dizer que se faz necessário explicitar o conhecimento "tácito", isto é, aquele conhecimento que ainda não foi externado, tornado passível de ser compartilhado com os companheiros de jornada. Mas "para que o conhecimento conduza à transformação do negócio, é preciso haver um amplo consenso quanto à importância, e empregar bem o tempo para analisar os aspectos culturais e organizacionais que o influenciam." 9 Prognostica-se, atualmente, que as melhores empresas serão aquelas cujos funcionários sejam criativos e utilizem de forma compartilhada o conhecimento, em contraposição, ao atual desempenho das mesmas, cujo foco de preocupação volta-se para as ações individuais ou funcionais desvalorizando as coletivas. A atuação coletiva torna-se, na sociedade atual, o elemento essencial para a geração e preservação do conhecimento. Outro ponto forte, antes relegado pelos sistemas, é o investimento na aprendizagem coletiva pois a otimização no desempenho das tarefas era o enfoque privilegiado. Barreto ao falar da importância de se fazer um mapeamento das competências individuais para se descobrir talentos o que facilitará o desenvolvimento das equipes diz que: Laurence Prusak, co-autor de Working Knowledge e um dos dirigentes do IBM Consulting Group Boston (EUA), afirma que uma das bases da gestão do conhecimento é a identificação de quem sabe o quê onde. Uma 7 LUDWIG, Waldez Luiz. A Fronteira da gestão da educação; comentários de Waldez. Snt. 8 BARRETO, Auta Rojas. Unidades de informação e de conhecimento. Sua concepção como unidades de negócios nas empresas. CONGRESSO DE INFOIMAGEM. São Paulo, outubro de 1999. 9 Idem. Ibid. p.1..infra-estrutura do conhecimento precisa ser constituída de maneira que as pessoas possam ser reconhecidas e remuneradas pelo que sabem, pelo know how que possuem e para que se desenvolva a cultura do
conhecimento. É usual que numa empresa de grande porte, existam muitas ilhas do conhecimento, não compartilhadas com outras unidades. Uma rede de competências internas pode ser facilmente disponibilizada na Intranet.10 A autora também chama a atenção para o especialista, norte americano Paul Strassmann quando este diz que "ele garante ser bastante óbvio que o mercado de ações está desejoso de reconhecer o capital do conhecimento e pagar por ele, apesar da resistência oposta pela chamada "velha contabilidade da era industrial". 11 Dentro desta visão o relatório da Skandia, em 1995, incluiu o capital intelectual como parte de seus ativos e em 1996, na New York University, Baruch Lev criou o Projeto de Pesquisa de Intangíveis para estudar o tema. São ações como estas que nos fazem tomar consciência da relevância do conhecimento intelectual, nesta "sociedade da informação" mas que por um outro lado requer o apoio político e a liberdade para
que o conhecimento seja socializado. É com Castoriadis que vamos encontrar bases para a construção da história social da qual somos atores e protagonistas. Ele não nos deixa esquecer que pensamento reflexivo e democracia caminham juntos e necessitam do homem como ser político e atuante para que estes continuem existindo. Daí porque Castoriadis vai nos dizer que : O momento do nascimento da democracia, e da política, não é reinado da lei ou do direito, nem o dos "direitos do homem", nem mesmo a igualdade dos cidadãos como tal: 10 Idem. Ibid. p. 2,3. 11 Idem. Ibid. p.4..mas o surgimento, no fazer afetivo da coletividade, da discussão da lei. Que leis devemos fazer? Nesse momento nasce a política; em outras palavras, nasce a liberdade como social- historicamente efetiva.12 Castoriadis, como os autores já citados, também caminha pela interação social como o espaço da construção coletiva, da busca de outras temporalidades, da convivência, do diálogo, das discussões e da participação do homem nas mais variadas demarcações, na elaboração de leis, etc. É o exercício da elucidação onde os homens tentam pensar o que fazem e saber o que pensam 13 que vai permitir a este mesmo homem um papel ativo, não mais passivo e nem predeterminado, é o momento em que o homem se torna cidadão que exerce seu papel político pois à política concerne tudo o que, na sociedade, é participável e partilhável. 14 Com Vygotsky, Hansen, Barreto e Castoriadis compreendemos que o Conhecimento e a Informação são legados sócio-históricos-culturais e que suas construções são autorizadas através de ações compartilhadas. Este fato coloca a interação social como importante fator para construção de conhecimentos e de produção de informações. Mas, sobretudo para que o homem participe ou mesmo se aproprie do legado cultural precisará do intermédio da linguagem. A linguagem torna-se um instrumento democrático pois é através dela que o cidadão poderá exercitar a sua cidadania.
Nossos parceiros nos apontaram um corpo teórico, baseado na interação social e na linguagem, que poderá nos fornecer âncoras e 12 CASTORIADIS, Cornelius. O Mundo fragmentado: as encruzilhas do labirinto/3. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p . 139,140. 13 CASTORIADIS, Cornelius. A Instituição imaginária da sociedade. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 14. 14
CASTORIADIS, Cornelius. O Mundo fragmentado: as encruzilhadas do labirinto/3. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p . 145..demarcações territoriais onde poderemos fincar a bandeira da
Biblioteconomia. 3 BUSCANDO ALTERNATIVAS OU A CIDADANIA PARA A BIBLIOTECONOMIA Se as duas ferramentas fornecidas por nossos parceiros, para demarcar as fronteiras biblioteconômicas, foram a interação social e a linguagem, entendemos que é através da leitura/escrita, compreendida como a linguagem imprescindível nesta sociedade letrada, que devemos direcionar nossos buscas. Sobretudo porque a Biblioteconomia cujo objeto de estudo e de atuação é a informação que tem como principal suporte a escrituração. Entretanto para falar de leitura/escrita nesta temporalidade teremos que deslocar o eixo da predominância da enunciação, ou seja, quando o autor se investe de autoridade no tema e o leitor exerce o papel de receptor passivo, ou seja, não é autorizado à dialogar com o texto. O mesmo é para ser compreendido da forma que foi exposto pois a predominância aqui volta-se para o reconhecimento e não para a
compreensão. Daí porque Carvalho afirma que: Formalidade e sistematização são palavras chaves para a estagnação quando se refere sobre uma linguagem dada como acabada. Sempre é o pensamento alheio que é sistematizado para ser imposto arbitrariamente bloqueando a inovação à medida que aprisiona a palavra ou a enunciação. A criatividade automaticamente se libera da formalização. A enunciação, a fala ou a própria linguagem adotando um caráter formal e sistematizado incompatibilizam-se com a abordagem histórica compatível com uma linguagem transformadora.15 15 CARVALHO, Ana Maria Sá de. Possibilidades de leitura na educação brasileira. CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 18, 1997, São Luís. Anais... Luís: Associação dos Bibliotecários do Maranhão, 1997. (Publicação em Disquete).Explicitada a enunciação como poder hegemônico da leitura de um texto, deslocamo-nos para a recepção objetivando instituí-la como paradigma para a Biblioteconomia, ou seja, um novo paradigma de apreensão e construção do conhecimento, tendo em vista, a presença ainda, do modelo positivista-racionalista que muitas vezes impede o avanço da profissão. Silva Neto que nos vai dizer que: ...desloca a posição do último elemento da cadeia (o receptor) da posição de indivíduos pacíficos para a de sujeito ativo essencial ao trabalho de interpretação e participação dos novos protocolos discursivos advindos das recentes tecnologias da comunicação e da informação que investem nas práticas interativas. Os novos reconhecimentos sobre a atuação dos sujeitosrelacionam-se à ampliação do conceito e da prática da comunicação. Pois, concebendo-a e praticando-a em sua dimensão mais lata, promove-se o rodízio dos elementos constituintes do ato comunicativo. No caso, as noções concernentes a Emissor, Receptor e Sentido, adquirem outra perspectiva, outros modos de construção e razões existenciais... assume a figura do leitor agora identificada como sujeito apto a colaborar na busca do sentido...Trata-se da leitura como prática re-apropriativa, como possibilidade de re-escritura dos diversos textos que sãocolocados para o leitor.Nossas leitura, nos vão garantir a impossibilidade do autor(enunciação) trabalhar com a completude do texto admitindo que o mesmo é formado por lacunas, por espaços brancos. Agora a
supremacia transfere-se para o receptor que se apossa do texto, re-significando- o à medida que ele preenche os vazios do texto, numa situação dialógica e interativa, buscando suprir a sua incompletude..É a hegemonia do leitor que vai marcar os espaços requeridospela temporalidade para demarcar a sua territorização. O autor não estará condenado à morte como tradicionalmente seria requerido. Agora ele ganha novos companheiros. Há uma velocidade incrível e um constante revezamento. A linguagem se enriquece, transforma-se em múltiplas produções com diferente sentidos. Cremos que o deslocamento para a estética da recepção é ogrande abalo sísmico que sofre o território da Biblioteconomia. Esta parece que ainda não se deu conta que precisa trabalhar com novos atores sociais não mais passivos mas, mais ativos e dinâmicos. É com a leitura, como recepção, que a Biblioteconomia deve erguer seu império, e ao mesmo tempo fornecer habitações temporárias para a sociedade e para outros profissionais construindo espaços demarcados para que
todos participem da distribuição das riquezas nacionais. Estas riqueza estão alocadas, na nossa temporalidade, no conhecimento/informação e deverão ocupar suportes e linguagens disponíveis à todos.
4 CONCLUSÃO
Como já citamos acima que Paul Strassmann de Connecticut, nos Estados Unidos, desenvolve uma metodologia de avaliação financeira do capital do conhecimento e afirma o desejo do mercado deações reconhecê-lo e pagar pelo mesmo. Ora, se nossa sociedade é uma sociedade capitalista e está interessada no capital do conhecimento, além de já despontar empresas empenhadas em trabalhar com ele, escolas americanas trabalhando a leitura voltada para construção coletiva do conhecimento e utilizando-se da recepção como importante canais de construção, educadores e psicólogos, como Vygstky teorizando nesta mesma direção além, da enorme contribuição que vários estudiosos tem dado, neste sentido, embora não tenham sido.citados aqui, nos sentimos autorizados a propor a leitura/escrita como novos importantes demarcadores territoriais da Biblioteconomia. Por outro lado os Bibliotecários precisam de investimentos teóricos na área da leitura/escrita pois falar de leitura agora é falar de novas maneiras instituintes e estruturantes de apreensão do mundo e de conhecimentos, de novas relações sujeito/objeto.Finalizamos com a pretensão de com esta reflexão tentar romper a visão determinista que valoriza somente o arcabouço tecnológico que não permite o sujeito receptor ultrapassar a condição de mero reprodutor esquecendo-se que o aparato tecnológico deverá ser
produzido para colocar o conhecimento e a informação disponíveis para o homem, ou seja, para o homem transformado em cidadão.
5 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BACHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do ... 7.ed. São Paulo: Hucitec, 1995.BARRETO, Auta Rojas. Unidades de informação e deconhecimento: sua concepção como unidade de negócios naempresa.
CASTORIADIS, Cornelius. O Mundo fragmentado: as encruzilhas dolabirinto III. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.-----------. A Instituição imaginária da sociedade. 3.ed. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1991.
HANSEN, Jane. When learners evaluate. Portsmouth, NH: Heinemann, 1998. ---------. Students as evaluators: students plan their literacy growth. Durhan, NH: University of New Hampshire, 1994.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 3.ed. Petrópolis, 1996.
VOGOTSKY, L.S. A Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1995.